Por que não podemos mais falar algumas palavras no YouTube?
As justificativas são: As palavras podem causar gatilhos psicológicos ou traumas. Os anunciantes não querem ver suas marcas associadas a palavras ou conteúdos violentos, sexuais ou perturbadores.
Só que para conseguirmos passar a mensagem, devemos trocar algumas palavras por outras menos contundentes. Algoritmos caçam palavras-chave como estas aqui: estupro, assassinato, suicídio, drogas, etc. Quando detectadas, podem limitar alcance, desmonetizar ou remover vídeos.
Só que, quando uma palavra forte é substituída por outra mais suave, isso muda a percepção e o impacto que ela causa nas pessoas.
Antigamente, “pecado” carregava peso espiritual, moral e eterno.
Hoje em dia, muitas vezes, é trocado por “erro” ou “falha”, que soam mais leves, quase administrativos, sem a conotação de algo grave.
Um erro é colocar sal, ao invés do açúcar, no chá. Pecado é degeneração e ofensa contra Deus. Percebem a diferença?
Essa nova prática pode, de fato, causar um efeito de banalização. A palavra forte lembra a gravidade do ato. A palavra suave reduz o choque e pode até levar à normalização.
No caso do YouTube ou da sociedade em geral, quando palavras como “estupro”, “assassinato” ou até “pecado” são evitadas, amenizadas ou retiradas de circulação, existe um risco parecido: Perde-se a clareza da gravidade. As novas gerações podem crescer ouvindo apenas termos mais brandos, sem noção real da profundidade do problema. A consciência moral e social pode ficar entorpecida, porque se fala “de forma leve” sobre coisas muito pesadas.
A linguagem molda a consciência. Se suavizamos demais, acabamos modificando também a percepção do pecado, do mal e da dor.
Estupro é forte, direto, conota brutalidade. Abuso é abrangente, significa algo “menos grave”. Em alguns casos, pode até significar algo bom: Esse vestido é um abuso, amiga!
Nesse contexto, “um abuso” significa que o vestido está muito bonito, chamativo, poderoso, estiloso, ousado — algo que “chama atenção” de forma marcante.
É parecido com:
- “Esse vestido está um arraso!”
- “Esse vestido está maravilhoso!”
- “Esse vestido está top demais!”
Ou seja, longe de ser algo negativo, é um elogio cheio de intensidade e entusiasmo.
Existe um grande perigo nisso. Quando suavizamos as palavras, suavizamos também a consciência. O que era grave passa a parecer normal. E as novas gerações crescem sem sentir o peso real do mal.
A ciência confirma: mudar as palavras muda a forma como pensamos, sentimos e até julgamos.
Guerra vira ‘dano colateral’.
Tortura vira ‘técnica reforçada’.
Assassinato vira ‘tirar a vida’.
Pecado vira ‘erro’.
O resultado?
Corações anestesiados. Sociedade indiferente. Uma geração que não sente indignação diante da violência. Que não reconhece a gravidade do pecado. Que não se arrepende porque já não entende o que fez de errado.
As palavras têm poder. E se deixarmos de falar a verdade com clareza, não só perderemos a memória, perderemos também a consciência. Se não chamarmos o mal pelo nome, não o reconheceremos quando ele estiver diante de nós.